segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

O futebol e a defesa da vida

Espetáculos - Sempre gostei de ir a estádios de futebol. As torcidas sempre me fascinaram. Mais do que as disputas das partidas, as cenas das gerais e arquibancadas são inesquecíveis e emocionantes. Sempre vou me lembrar da torcida do Corinthians, ocupando as arquibancadas do Pacaembu e, mesmo corintiano, nunca vou me esquecer dos palmeirenses da TUP do outro lado, na curvinha. O duelo e o espetáculo, de verdade, estava nas arquibancadas. Presenciar a festa das torcidas era a maior emoção dos estádios.

Pandemia - O isolamento social da pandemia fez com que campeonatos e torneios fossem interrompidos e, mesmo com a volta dos jogos, a presença das torcidas nos estádios está proibida. O espetáculo das torcidas está proibido. O futebol ficou mais triste sem a alegria vinda das arquibancada. Mas a realização dos jogos sempre depende de trabalhadores e trabalhadoras, pessoas anônimas que trabalham na infraestrutura dos estádios e que viabilizam que os enfrentamentos aconteçam.

Contaminações - Todos os dias sabemos da contaminação de atletas e de times inteiros pela pandemia. Raramente, no entanto, ficamos sabendo de contaminações e mortes das pessoas que trabalham na iluminação ou na limpeza dos estádios de futebol. Não somos informados porque, nesses casos, os seres humanos, que morrem ou são contaminados, não ostentam, nos seus uniformes, as marcas dos patrocinadores dos espetáculos. Com a volta dos jogos, o futebol perdeu o show emocionante das torcidas nas arquibancadas, e está perdendo vidas de pessoas anônimas.

Patrocínios - Os maiores patrocinadores do futebol, no mundo inteiro, são os bancos. Mesmo quando a marca que aparece é de um produto físico identificável, o comprometimento dessa produção com o sistema financeiro é tanto e tão grande, que o beneficiário da publicidade é o financiador do produto que, uma vez comercializado, vai gerar recursos para o pagamento das dívidas do financiamento. Os bancos não se importam com a saúde dos atletas do futebol nem com a vida das pessoas que trabalham nos estádios. A prioridade, para o mercado financeiro, é o lucro. Para os que gostam do esporte, o mais importante sem será a preservação da vida. 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Versões, narrativas e consequências

História - A consolidação de versões, que influenciam o senso comum, sempre foi uma iniciativa das classes dominantes. O objetivo imediato é influenciar decisões e deliberações, e conquistar o apoio do povo em situações em que esse apoio não é automático. O processo de construção de narrativas sempre se dirige ao inimigo, sem que este tenha qualquer culpa, e faz desse falso "perigo" um argumento importante, que serve para o momento conjuntural.

Momentos - As consequências das decisões tomadas com base em versões são impossíveis de serem desfeitas ou muito difíceis de serem revertidas. Sabemos, hoje, que era mentira que as mulheres acusadas de serem bruxas fossem feiticeiras, mas, essa constatação não as devolveu a vida. Elas já haviam sido executadas. O presidente Lula foi acusado injustamente e condenado por causa de atos que nunca cometeu. A evidência da farsa, no entanto, não vai apagar o fato de ele ter ficado preso injustamente durante 580 dias.

Exemplos - No caso do presidente Lula e do PT, a enxurrada de notícias negativas foi tão grande, que comprometeu a democracia representativa e, mesmo que as sentenças sejam anuladas, isto não significa que a pecha de "ladrão" seja superada rapidamente. As classes dominantes se aproveitaram da situação para hegemonizarem o debate público, e o combate à corrupção demonstra como o conteúdo das discussões é direcionado. O caso do "leite condensado", que hegemoniza o noticiário e as redes sociais nos últimos dias é um triste exemplo de como as coisas podem acontecer. 

Cortina de fumaça - No mesmo espaço de tempo em que a suspeita de corrupção ocupou o noticiário e as redes sociais, o ministro da economia do "coiso" anunciou que o auxílio emergencial só retorna se houverem cortes na educação e o governo federal promoveu um corte de 70% nas verbas da pesquisa científica. A hegemonia da narrativa de combate à corrupção resultou na legitimação da política de corte de gastos públicos. O objetivo da narrativa moralista foi favorecer os interesses dos proprietários de títulos da dívida pública. A exposição do combate hipócrita à corrupção serviu para encobrir (ou secundarizar) medidas que favorecem os bancos. 

sábado, 23 de janeiro de 2021

Imagens, narrativas e contraposições

Narrativa - São insistentes as imagens de praias cheias e, ao mesmo tempo, são inexistentes registros fotográficos da lotação nos terminais, nos trens e nos ônibus. A insistência da divulgação das imagens vai criando, na opinião pública, a sensação de que a culpa por contaminações e mortes se deve, exclusivamente, à irresponsabilidade individual de quem frequentou praias e festas.

Genocídio - É óbvio que concentrações em lugares de lazer contribuem para a disseminação do vírus. Mas este fator não é o único e nem o mais importante. Seres humanos vivem em moradias onde é impossível qualquer tipo de distanciamento ou isolamento. Essas mesmas pessoas são obrigadas a enfrentar a lotação no transporte público, todos os dias, para se dirigirem aos seus locais de trabalho.

Legitimação - A tentativa de criar uma narrativa que exclua trabalhadoras e trabalhadores, que moram nas periferias, tem o objetivo cruel de legitimar atitudes insanas e declarações descabidas. O ministro da economia do "coiso" afirmou que o dinheiro do auxílio emergencial serviria para o povo se divertir e o "doriana" acaba de decretar fase vermelha, em todo o estado de São Paulo, a partir das 20 horas.

Criminalização - O mesmo artifício foi utilizado, recentemente, quando o noticiário culpou o PT pela corrupção e contribuiu, decisivamente, para a condenação injusta do presidente Lula. No ranking da corrupção, partidos como o MDB, o PP, o DEM e o PSDB ocupam os primeiros lugares. Mesmo assim, o senso comum decretou, com ajuda midiática, que o PT é um "partido de ladrões", embora as pessoas nem saibam direito o que foi roubado. 

Contraposição - O pronunciamento do ministro do "coiso" foi reforçado, recentemente, por um representante do mercado financeiro, que declarou que "a volta do auxílio seria um desastre para os bancos". O que pode ser ruim para o mercado financeiro é bom para o povo. O decreto do "doriana", estabelecendo a fase vermelha a partir das 20 horas é uma demonstração de que ele é sócio da armação. Uma das tarefas urgentes, neste momento conjuntural, é a defesa intransigente da volta dos pagamentos aos excluídos e vulneráveis.  

Constatação - Chegar à conclusão de que está sendo armada uma narrativa parcial é até simples. Basta ter bom senso. O problema é que os beneficiários da armação tem tanques de guerra e caças supersônicos e, do outro lado, temos estilingues e as pernas pra correr. É uma disputa muito desigual. Mas, ainda assim, é necessário resistir e se contrapor, por todos os meios possíveis, a qualquer narrativa estúpida e desumana. 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Racismo e exclusão

Insanidade - O desenvolvimento de ideias insanas teria menos sucesso se não fosse a contribuição dos grandes veículos de comunicação. O exemplo mais visível é o noticiário sensacionalista sobre violência. Os bairros mais retratados se localizam nas periferias e os mortos, em sua maioria, são pretos e pobres. Existem pessoas que sempre pensaram de acordo com o que quer a classe dominante, mas, com a eleição do "coiso", elas se sentiram encorajadas a assumir, publicamente, o seu lado canalha e desumano.

Racismo - O episódio sobre o início da vacinação é um exemplo de como isso acontece. A primeira pessoa a ser imunizada foi uma enfermeira negra, moradora do bairro de Itaquera, na zona leste da cidade de São Paulo. Pessoas que têm ligação com o bairro celebraram o fato. Teve até quem sugerisse uma placa com os dizeres "a imunização começou aqui". Integrantes da luta das mulheres, profissionais da saúde, servidores públicos e combatentes contra o racismo também comemoraram. Mas seguidores do "coiso", e racistas em geral, fizeram do episódio uma forma de mostrar o caráter excludente e desumano de suas ideias.

Exclusão - O processo de imunização da população é longo e trabalhoso. Até que a vacinação chegue a, pelo menos, 70% da população, o risco de contaminação ainda estará presente. Todos os cuidados com higiene pessoal e isolamento social continuam necessários. O combate à pandemia é uma ação coletiva da humanidade. Os governos devem colaborar com o processo de imunização, mas, no caso do Brasil, não é isso o que acontece. Desde o início da pandemia, o "coiso" vem negando o perigo da contaminação. Em relação à vacina, ele próprio e seus auxiliares criaram conflitos diplomáticos com os produtores de insumos, e isso pode prejudicar a importação de componentes da vacina.     

domingo, 17 de janeiro de 2021

Liberalismo e miséria

Mercado - Neste domingo, logo cedo, eu li a entrevista da economista chefe do Banco de Crédito da Suíça, onde ela dava uma espécie de ultimato ao país. Segundo a reportagem "o Brasil tem seis meses para realizar reformas para equilibrar as contas públicas, caso isso não ocorra, teremos aumentos do dólar, da inflação e dos juros". A pressão do mercado não é nenhuma novidade. A defesa do equilíbrio fiscal é feita com o objetivo de transformar os serviços públicos em objeto de lucro.

Dificuldade - O recado do mercado financeiro, no entanto, esbarra em uma dificuldade objetiva importante. No mesmo domingo, a Anvisa aprovou vacinas contra o Covid-19 que foram desenvolvidas por servidores públicos. O Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz são os responsáveis, no Brasil, pelos estudos que resultaram na produção dos imunizantes aprovados até agora. Para que ocorra a vacinação, em todo o país, será essencial que a rede formada pelo SUS seja utilizada. O mesmo serviço público que o mercado financeiro quer desmontar será responsável por salvar vidas. 

Contradição - A entrevista da representante do mercado financeiro também contraria a realidade recente do país. Os resultados das reformas realizadas até agora não fazem os efeitos pregados por ela para o futuro. Mesmo com o congelamento dos gastos públicos, a reforma da previdência e as supressões de direitos trabalhistas não aconteceu qualquer recuo. Ocorreu o contrário. A cotação da moeda norte-americana não para de subir e a inflação para os mais pobres está muito alta. O receituário liberal está indo na direção errada e produzindo o aumento da pobreza.        

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Conteúdo anticapitalista

Mudança - O encerramento das atividades de montadoras de automóveis no Brasil é mais um sinal da desindustrialização do país, mas, desgraçadamente. é um indício, também, de encerramento de uma  fase do capitalismo, que já esteve concentrado na produção e comercialização de bens, mas que, ultimamente, está voltado, preferencialmente, para a obtenção do lucro através de investimentos no mercado financeiro e da super exploração de trabalhadores do setor de serviços.

Trabalho - A indústria automobilística, durante bastante tempo, foi o topo de uma cadeia produtiva que empregou milhões de pessoas, em todo o mundo. Isto não acontece mais, basicamente, porque as grandes indústrias privilegiaram a lógica da "poupança de mão de obra" e, com isso, ficou mais vantajoso e mais lucrativo buscar lugares onde o preço cobrado pelo trabalho humano seja mais baixo e onde a quantidade de operários necessários para a produção seja menor.

Mentira - A desculpa utilizada pelos conservadores liberais, que falam em impostos altos como justificativa para a mudança, é mentirosa e falaciosa. Os tributos, no Brasil, nem são muito diferentes do restante do mundo, em se tratando de taxar a produção de automóveis. O que acontece, desgraçadamente, é que o capitalismo está se reorganizando, no mundo inteiro, indústrias estão escolhendo se instalar em países onde seja mais simples a "poupança de mão de obra".

Mercado - Ajustes do capitalismo também estão acontecendo no mercado financeiro. O Brasil é pioneiro na automação bancária (com dispensa de trabalhadores) e, por causa disso, o mercado financeiro é um atrativo importante para o investimento privado. Os bancos públicos têm uma clientela cativa e qualquer investidor capitalista tem interesse nisso. O desmonte do Banco do Brasil é uma iniciativa governamental para atrair investidores privados.

Capitalismo - Não é somente a indústria automobilística que passa por mudanças. O sistema capitalista, como um todo, está se reformulando, mantendo, no entanto, seu objetivo principal, ou seja, a lucratividade dos negócios. Os parceiros públicos dessa ofensiva podem ser fascistas insanos como o "coiso" ou qualquer outro governante que tenha o liberalismo como cartilha ideológica. Para fazer frente a isso, é urgente que a mobilização popular tenha conteúdo claramente anticapitalista e, no momento imediato, tenha clareza e coragem para fazer alianças pontuais contra o fascismo.     

sábado, 9 de janeiro de 2021

O poder do dinheiro

Falsidade - Há uma visão sobre o poder judiciário que, na minha opinião, exagera na neutralidade em nome de um suposto fortalecimento da democracia. Vivemos uma situação muito perigosa para assistir cenas truculentas contra adversários e inimigos sem imaginar que os mesmos métodos serão utilizados contra a esquerda. O drama desse tipo de atitude é que ela iguala a esquerda com os outros, e todos nós sabemos que as coisas, no capitalismo, não acontecem assim. Enquanto os nossos são perseguidos implacavelmente e condenados sem provas, os outros compram sentenças favoráveis e se mantém em liberdade. O poder econômico manda no judiciário.

Comunicações - No setor de comunicação acontece um fenômeno muito semelhante. A defesa genérica da liberdade de expressão serve para legitimar atitudes excludentes e racistas da mídia tradicional. O noticiário privilegia fatos negativos envolvendo pobres e pretos, legitimando a violência policial nas periferias; notícias envolvendo mulheres e homossexuais são apresentadas com parcialidade, induzindo o reforço do preconceito existente na sociedade; e fatos absurdos são noticiados com normalidade, fazendo com com que a insanidade de ações como a que ocorreu no parlamente norte-americano nesta semana, sejam enxergadas pela opinião pública como fato corriqueiro.

Democracia - Já tive a ilusão de viver em um mundo onde o poder judiciário e a imprensa agissem com bom senso. O passar do tempo me ajudou a enxergar que o poder econômico influencia os tribunais e os veículos de comunicação, de modo a favorecer a classe dominante. A mesma "força da grana que ergue e destrói coisas belas" também serve para comprar sentenças, reportagens e artigos, sempre de acordo com os interesses dos donos do dinheiro. O poder econômico, no capitalismo, é superior a qualquer tentativa de bom senso.

Despedida - Neste sábado Fernando Haddad se despediu do jornal Folha de São Paulo, com um texto onde afirma que "a Folha. em lugar de discutir ideias, prefere agredir pessoas de forma estúpida". A agressão foi desferida contra ele, através de editorial que especulou que Haddad estaria se insinuando como candidato a presidente da república, quando, na verdade, ele sempre afirmou a precedência do presidente Lula na disputa eleitoral presidencial. A violência, no entanto, não foi somente contra Fernando Haddad, mas contra todas as pessoas que constroem o PT e contra quem participa do esforço de construção de uma alternativa contra o fascismo e contra a exclusão social.

O futebol e a defesa da vida

Espetáculos - Sempre gostei de ir a estádios de futebol. As torcidas sempre me fascinaram. Mais do que as disputas das partidas, as cenas d...