terça-feira, 20 de março de 2018

Neutralidade e fé católica

O papel da Igreja - A reação de duas pessoas contra o padre Mario de França Miranda, durante a homilia, em uma missa na cidade do Rio de Janeiro, ajuda a refletir sobre o comportamento de pessoas que defendem interesses inconfessáveis. A reação desmedida é reveladora de atitudes e ideias que se pretendem hegemônicas, e que não toleram a convivência com quem pensa e age de modo diferente. A pretensão dos que atacaram o padre (e de outras pessoas que os apoiaram nas redes sociais) é que a Igreja mantenha uma neutralidade impossível de existir, especialmente em um país (como o Brasil) onde as desigualdades sociais são enormes. O papel da Igreja de Jesus Cristo é a defesa dos mais pobres e dos mais humildes. Para cumprir essa tarefa, ela se apóia na ação cotidiana de pessoas como Marielle. A citação do nome da vereadora, especialmente por causa disso, é justa e necessária. Quem discorda disso, desgraçadamente, aprova o crime e, muito pior, aprova também as situações de injustiça e de desigualdade que sempre foram denunciadas por Marielle Franco.

Compromisso - Não existem números precisos, mas é evidente que muitos dos lutadores sociais brasileiros tiveram origem na participação nas Comunidades Eclesiais de Base (CEB`s) da Igreja Católica Apostólica Romana. A própria Marielle Franco foi catequista numa paróquia do Rio de Janeiro e integrou a Pastoral da Juventude. Não existe contradição entre a atuação dos lutadores sociais e a doutrina da Igreja. A ressalva que se deve fazer, sempre, tem relação com a participação partidária, que não deve ser confundida, nunca, com a fé católica. A luta contra as injustiças e contra a exclusão social, por outro lado, deve ser um compromisso do cristão. Ao se referir à vereadora assassinada, o padre agredido (teólogo respeitado no mundo inteiro) expressou o sentimento de pesar de milhões de católicos e cristãos.

Conteúdo - Iniciei minha participação, como cristão e como lutador social, em reuniões de jovens que aconteciam, todos os domingos, no Centro Social das Famílias Amigas (CIFA), em Itaquera. Mais tarde, participei de atividades que aconteciam no salão da Igreja Cristo Rei, no Tatuapé. Na época (final dos anos 70 do século passado) vivíamos uma ditadura implacável contra os movimentos sociais populares, e não haviam sindicatos combativos ou partidos políticos de esquerda com existência legal. A Igreja Católica abriu suas portas e franqueou seus espaços para as reuniões de lutadores sociais. Aprendi, desde aquele tempo, que a neutralidade é impossível diante das injustiças, e que o conteúdo da fé cristã tem que ser o de defender os interesses e demandas dos explorados e excluídos. Minha militância partidária posterior me afastou de atividades eclesiais. Ao decidir me filiar ao Partido dos Trabalhadores, escolhi estar na trincheira da luta concreta de todos os dias, e isto, na maioria das vezes, não é compatível com a participação nas atividades da Igreja. Mantenho meu compromisso de petista convicto e de cristão militante das causas sociais. O conteúdo principal da fé critã e católica deve ser, sempre, o compromisso com as lutas populares.    
  

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