domingo, 18 de março de 2018

As ideias de força e a força das ideias

Ódio e violência - Desde a II Guerra Mundial, as referências ao nazismo são limitadas na imprensa da Alemanha. Não se trata de censura, mas há uma consciência coletiva de que a ideologia nazista não é razoável. No Brasil, logo depois do fim da ditadura, também vigorou uma certa vergonha em elogiar os militares e a repressão. A limitação em relação ao nazismo ainda existe na Alemanha. A atual primeira ministra de lá, dirigente de um partido conservador, é responsável por parte da acolhida europeia a refugiados de guerra, que seriam escorraçados por Hitler e seus seguidores. No Brasil, numa época de ódio e de irracionalidade,  há saudosos do autoritarismo e da repressão, que pedem a volta da ditadura e que defendem o recrudescimento da violência. O discurso de ódio pode ser atribuído a um raciocínio imbecil, teoricamente restrito a uma minoria da população. O ódio aos negros, às mulheres e aos moradores de rua ou da periferia, no entanto, vem justificando ações violentas contra seres humanos indefesos e desarmados. O comportamento odioso pode ser apontado também como responsável pelo disparo de armas de fogo contra defensores dos direitos humanos e contra militantes das causas populares.

Pitoresco e perigoso - Confesso que já considerei pitoresco o discurso em defesa da ditadura. Por diversas vezes, achei que palavras proferidas, por amigos e parentes, eram delírios que nunca teriam qualquer consequência. Uma das primeiras notícias da onda de ódio mais recente é o caso de um homem que passeava pela Avenida Paulista, num domingo de sol, com uma criança no colo, vestindo uma camisa vermelha. Ao passar por uma manifestação antipetista, ele foi abordado e agredido por causa da sua indumentária. Ao ler a notícia, me lembrei de assembleias do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, em que apoiadores da diretoria comandada por Joaquim dos Santos Andrade investiam violentamente contra militantes da Oposição Sindical Metalúrgica, sempre com o reforço de membros de academias de lutas marciais. A violência praticada nas assembleias do sindicato dos metalúrgicos pretendia intimidar os integrantes da oposição sindical e amedrontar qualquer um que resolvesse usar a palavra para discordar da diretoria que, em 1964, havia sido nomeada pela ditadura. As agressões contra o rapaz de camisa vermelha na Avenida Paulista pretenderam atacar ideias socialistas e libertárias. Intimidando uma figura anônima, tiveram a intenção de impedir o crescimento da luta pelo socialismo com liberdade e democracia.

A força das ideias - O professor Florestan Fernandes foi deputado federal constituinte, eleito pelo PT, entre 1987 e 1990. Tive a honra de ser seu apoiador e de ter votado nele. A principal palavra de ordem da sua campanha eleitoral era "contra as ideias de força... a força das ideias". O discurso odioso, que justifica o uso das armas contra ideias e atitudes, pode ser responsável por mortes e perseguições, mas é a defesa da igualdade que será capaz de mudar o mundo. O ataque insano contra o rapaz de camisa vermelha; a violência dos "bate-paus" a serviço de elementos da ditadura infiltrados nos sindicatos de trabalhadores; as execuções sumárias de militantes das causas populares e de moradores das periferias; e as ações do crime organizado são incentivadas por "ideias de força", mas será a "força das ideias" que vai reforçar a solidariedade e a generosidade, todos os dias, e que vai construir, com o decorrer do tempo, uma sociedade mais justa e mais igualitária.

Os objetivos estratégicos do golpismo

Pretensão - A figura do presidente Lula se tornou conhecida no país inteiro por causa da sua identificação com as demandas populares. Ainda que tenham tido papel histórico importante, outras figuras públicas de origem popular nunca foram identificadas, tão claramente, com um conjunto de movimentos e reivindicações dos movimentos sociais populares e dos trabalhadores. Também é inédita a combinação de valores humanistas, com essa abrangência, ao longo da história brasileira. É exatamente por causa disso que existe uma insistência em desmoralizar a liderança do presidente Lula. A tentativa de impedimento de sua candidatura é apenas um aspecto conjuntural e momentâneo. O que os adversários do presidente Lula pretendem é a destruição completa de qualquer perspectiva de emancipação dos trabalhadores e das classes populares.

Moralidade - A concentração do discurso golpista na moralidade administrativa é um facilitador do engajamento midiático no objetivo estratégico das classes dominantes. O noticiário da mídia tradicional tem o papel de atacar o presidente Lula e o PT, amplificando denúncias e suspeitas e, ao mesmo tempo, de inocentar, previamente, qualquer integrante do bloco apoiador do golpe de 2016. A seletividade do noticiário midiático é evidente. As menções a membros do governo sem voto são feitas de modo exclusivamente jurídico, com recursos protelatórios sendo tratados como providências normais do direito de defesa. Ao mesmo tempo, denúncias e suspeitas contra o presidente Lula são noticiadas, sempre, a partir do fato consumado (e antecipado) da condenação. Malas de dinheiro, indicações de favorecimento a empreiteiras e adiamentos de processos judiciais, quando se referem a governistas, são tratados como fatos normais e corriqueiros. Quando se referem ao presidente Lula ou ao PT, por outro lado, são mostrados como fatos consumados, e as figuras públicas são sempre apresentadas como bandidos (algemados e de tornozeleira eletrônica).

Contraposição - O objetivo estratégico do golpismo, contudo, não vem sendo bem sucedido. Apesar do apoio da mídia tradicional, há uma militância petista atenta e mobilizada, que não permite o avanço das pretensões da classe dominante. A identificação popular do presidente Lula, por outro lado, é responsável por sua liderança em todas as pesquisas, e anima o PT e a esquerda a seguirem em frente na luta pela democracia e pela participação do presidente Lula nas eleições de 2018. A intenção golpista, para ser bem sucedida, precisaria contar com a atuação decisiva (e determinante) de agentes infiltrados em nosso meio (reforçando ataques ao PT e espalhando ideias estapafúrdias como a de um inexistente "plano B"), e isto não vem ocorrendo.   

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