sábado, 23 de janeiro de 2021

Imagens, narrativas e contraposições

Narrativa - São insistentes as imagens de praias cheias e, ao mesmo tempo, são inexistentes registros fotográficos da lotação nos terminais, nos trens e nos ônibus. A insistência da divulgação das imagens vai criando, na opinião pública, a sensação de que a culpa por contaminações e mortes se deve, exclusivamente, à irresponsabilidade individual de quem frequentou praias e festas.

Genocídio - É óbvio que concentrações em lugares de lazer contribuem para a disseminação do vírus. Mas este fator não é o único e nem o mais importante. Seres humanos vivem em moradias onde é impossível qualquer tipo de distanciamento ou isolamento. Essas mesmas pessoas são obrigadas a enfrentar a lotação no transporte público, todos os dias, para se dirigirem aos seus locais de trabalho.

Legitimação - A tentativa de criar uma narrativa que exclua trabalhadoras e trabalhadores, que moram nas periferias, tem o objetivo cruel de legitimar atitudes insanas e declarações descabidas. O ministro da economia do "coiso" afirmou que o dinheiro do auxílio emergencial serviria para o povo se divertir e o "doriana" acaba de decretar fase vermelha, em todo o estado de São Paulo, a partir das 20 horas.

Criminalização - O mesmo artifício foi utilizado, recentemente, quando o noticiário culpou o PT pela corrupção e contribuiu, decisivamente, para a condenação injusta do presidente Lula. No ranking da corrupção, partidos como o MDB, o PP, o DEM e o PSDB ocupam os primeiros lugares. Mesmo assim, o senso comum decretou, com ajuda midiática, que o PT é um "partido de ladrões", embora as pessoas nem saibam direito o que foi roubado. 

Contraposição - O pronunciamento do ministro do "coiso" foi reforçado, recentemente, por um representante do mercado financeiro, que declarou que "a volta do auxílio seria um desastre para os bancos". O que pode ser ruim para o mercado financeiro é bom para o povo. O decreto do "doriana", estabelecendo a fase vermelha a partir das 20 horas é uma demonstração de que ele é sócio da armação. Uma das tarefas urgentes, neste momento conjuntural, é a defesa intransigente da volta dos pagamentos aos excluídos e vulneráveis.  

Constatação - Chegar à conclusão de que está sendo armada uma narrativa parcial é até simples. Basta ter bom senso. O problema é que os beneficiários da armação tem tanques de guerra e caças supersônicos e, do outro lado, temos estilingues e as pernas pra correr. É uma disputa muito desigual. Mas, ainda assim, é necessário resistir e se contrapor, por todos os meios possíveis, a qualquer narrativa estúpida e desumana. 

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