segunda-feira, 9 de abril de 2018

Religiosidade e militância

Opção militante - Episódios recentes, como a execução da vereadora Marielle Franco e a prisão do presidente Lula, me fizeram voltar no tempo para recordar os motivos de minha opção militante. A leitura de um texto do companheiro Régis Morais também contribuiu para a avaliação da minha vida de católico praticante. Minha caminhada começou quando eu ainda contava dezessete anos e o Brasil vivia sob o governo de uma sangrenta ditadura. A Igreja Católica, no Brasil de então, tinha como referências principais os documentos de Medellin e de Puebla, indicadores da opção preferencial pelos pobres; e as resoluções do Concílio Vaticano II, que definiram melhor, e mais precisamente, o papel dos cristãos leigos. A ausência de democracia política e a ampliação da concentração de renda e de riqueza (com o consequente aumento da pobreza) fizeram com que a Igreja Católica aprofundasse suas escolhas, para se dedicar à organização dos pobres e excluídos e para enfrentar o autoritarismo. A opção preferencial pelos pobres e o enfrentamento com a ditadura fizeram com que a minha religiosidade se tornosse, também, uma militância política que, mais tarde, iria se aprofundar e se transformar em opção partidária.

Ditadura - No final dos anos 70 do século passado, os espaços de organização dos trabalhadores e dos movimentos sociais populares eram muito poucos. Os sindicatos, na maioria dos casos, eram dirigidos por homens de confiança do governo autoritário. As reuniões e atividades aconteciam, em geral, em locais cedidos pela Igreja Católica, com a autorização expressa de integrantes da hierarquia e com a participação ativa de padres e freiras. Minha opção militante, então, foi determinada pela prática cristã e católica. Isso contribuiu para que eu tenha uma visão libertadora da religiosidade, o que me afastou, naturalmente, de opções mais místicas e distantes da realidade. A participação política se tornou uma rotina na minha vida, e no cotidiano de muitas outras pessoas que iniciaram a caminhada naquela época conturbada. Na missa de sétimo dia por Marielle Franco e na ocupação de São Bernardo do Campo eu tive a chance de rever muitas pessoas que continuam na mesma trincheira de luta, ou seja, que mantém o compromisso com a transformação social de nosso país e do mundo.
Aprendizado - Com o passar do tempo, eu aprendi a respeitar as diferenças que existem, dentro da Igreja e no mundo, e a conviver com a diversidade, como pressupostos de convivência pacífica e democrática. O restabelecimento de algumas liberdades democráticas na sociedade, a retomada de sindicatos pelos trabalhadores e a criação de espaços de reunião abertos ao povo fizeram com que a Igreja Católica promovesse uma relativização da atenção com os trabalhadores e com as classes populares. Minha opção pessoal, então, se tornou uma escolha militante mais explícita. Participei da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e me filiei ao Partido dos Trabalhadores (PT) e, especialmente por causa disso, me afastei da participação eclesial cotidiana. Aprendi, entre muitas outras coisas, que a caridade individual, embora necessária, pode ser inútil se não mudarmos as estruturas que produzem mais fome e mais miséria. Muitos dos valores assimilados na época que eu iniciei minha militância são importantes até os dias de hoje. Foi a convivência com a diversidade e com a democracia que me animaram a retomar a vida na comunidade de fé. É a certeza de que a luta contra as injustiças é um compromisso cristão e católico que me incentivam a continuar sendo militante.  

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