segunda-feira, 15 de abril de 2019

Razão e transformação

Racionalismo - Sempre tive a característica de encarar, racionalmente, tudo o que acontece comigo e com o mundo. Não acredito em castigo aplicado por Deus em qualquer hipótese. Minha convicção tem origem na fé de que Deus é bom, e a bondade divina não pressupõe qualquer tipo de castigo. Creio que os atos de qualquer pessoa sempre terão consequências (boas ou ruins) e, por causa disso, penso que as situações que vivemos são resultantes dos atos que cometemos.

Consequências - No decorrer da minha vida namorei bastante, me casei duas vezes e mantive diversas relações estáveis. É natural que, por causa disso, eu seja o pai biológico de muitos filhos e filhas, e eu não tenho conseguido dar a atenção que essas crianças crescidas merecem. Desde a adolescência eu consumi muitos cigarros de papel. É natural que, como consequência, eu tenha doenças respiratórias. Fui um consumidor inveterado  de bebida alcoólica. Não será nenhuma surpresa que eu tenha doenças do fígado e do aparelho digestivo.

Paralelo - Do mesmo modo que eu enxergo minha vida pessoal é que eu avalio a história. Os avanços da civilização humana sempre dependeram (e continuam dependendo) da ação cotidiana de mulheres e homens. Iniciativas e atitudes do passado foram determinantes para a situação que vivemos hoje. Ações e comportamentos do presente serão decisivos para que, com o decorrer do tempo, tenhamos uma forma de organização da sociedade mais justa e mais fraterna. Os protagonistas do futuro, nossos descendentes, terão orgulho de nossa geração se formos insistentes (e persistentes) na luta por igualdade e por justiça social. 

História - A nobreza se considerou representante de Deus no mundo, e impôs regras e leis que sempre para favorecer seus interesses, com a falsa justificativa de que as benesses das famílias reais e imperiais agradavam a Deus. Desde que a burguesia derrotou a nobreza, e implantou o modelo capitalista de funcionamento da sociedade, o que se verificou foi a valorização da divindade do mercado, com a consequente secundarização dos seres humanos. Reis e rainhas provocaram a própria ruína, em nome de Deus. O capitalismo, em nome do mercado, pretende provocar a morte dos seres humanos, para favorecer uma minoria. Os arruinados de outros tempos não tiveram o apoio popular necessário para se manter no poder. Os mercadores da morte, desgraçadamente, ainda contam com o apoio de parte da população.

Continuidade - O poder da nobreza durou muitos séculos. É esperado que o poder do capitalismo permaneça, ainda, por bastante tempo. O poder de reis e imperadores foi derrotado porque, ao longo da história, mulheres e homens enfrentaram a situação e lutaram por mudanças. O capitalismo vai ser superado pela luta permanente e contínua de todas as pessoas que acreditam num mundo melhor e mais justo para todos e todas. A transformação da estrutura da sociedade é uma luta permanente.        

sábado, 30 de março de 2019

Mobilização

Ditadura nunca mais - A anunciada comemoração do dia 31 de março é um incentivo para participar do ato político marcado para acontecer no local onde funcionou, durante a ditadura, um dos aparelhos da repressão. O local da manifestação, na Rua Tutoia, é coberto do simbolismo da resistência ao autoritarismo, e ele deve ser transformado em memorial para homenagear pessoas que foram assassinadas por resistir à tirania praticada pelo regime iniciado com o golpe de 1964. 

Em todos os lugares - Decidi não me deslocar até a Vila Mariana, e participei de um outro evento, no bairro do Grajaú, em comemoração ao mês das mulheres, onde o regime sanguinário e assassino também foi lembrado. O motivo da minha escolha é simples. É preciso que a consciência contra o autoritarismo e em defesa da democracia se espalhe por todos os lugares. É essencial que todas as mulheres e homens se mobilizem para defender o estado democrático de direitos, condição importante para que os trabalhadores e as classes populares se tornem protagonistas do futuro.

Repúdio e mobilização - Combater a estupidez de comemorar a violência é necessário e urgente. A ideia imbecil do "coiso" e de seus seguidores não pode ser bem sucedida. O memorial em homenagem às vítimas do autoritarismo deve ser defendido, mas, principalmente, a mobilização em defesa das liberdades democráticas deve ser assegurada, em todos os lugares. A melhor homenagem aos torturados e mortos pela ditadura será a luta permanente em defesa da democracia.

segunda-feira, 11 de março de 2019

História, verdade e protagonismo

Carnaval - A vitória da Mangueira premiou o enredo que reescreveu a história de nosso país, dando destaque a denúncias que não são citadas na historiografia oficial. Como sabemos, a história é sempre contada pelos vencedores e, na sociedade em que vivemos, tornou-se rotina a apresentação de criminosos como heróis. A classe dominante sempre contou sua história, omitindo personagens populares e exaltando os que serviram aos seus interesses. Foi assim, por exemplo, que aprendemos que os bandeirantes desbravaram o Brasil, quando, na verdade, eles ampliaram as fronteiras através do assassinato de índios e da usurpação de terras pertencentes aos que foram mortos por eles.

Autoritarismo - A ditadura, instalada pelo golpe de 1964, já foi chamada, por um grande jornal, de "ditabranda", e se essa interpretação passar para a história, pode dar razão ao "coiso", que pensa que o autoritarismo da época fez mal em "só torturar e não matar". O desfile da Mangueira restabeleceu a verdade quando citou o companheiro Stuart Angel Jones, assassinado durante sessão de tortura num quartel militar. A irmã dele, a jornalista Hildegard Angel, se apresentou, num carro alegórico, para demonstrar o instinto assassino dos golpistas de 1964.

Marielle - Um ponto muito importante do desfile da Mangueira foi a referência à vereadora carioca, assassinada, muito provavelmente, por milicianos, cujo crime continua, ainda, sem qualquer punição. O enredo incorporou o sentimento coletivo de defesa da democracia, de apuração desse crime violento e de punição dos culpados. Nascida na favela, a vereadora assassinada é porta voz dos interesses do povo pobre e oprimido. Ao homenageá-la, a Mangueira reafirmou os pressupostos da sua luta e, ao mesmo tempo, ajudou a disseminar a ideia de que o brutal assassinato de Marielle não vai impedir a apresentação das demandas e reivindicações da maioria da população.

Democracia - A supressão de direitos é o objetivo principal do golpismo e do fascismo. É muito importante que as manifestações de sindicatos de trabalhadores e de movimentos sociais populares sejam intensificadas. Mas isso pode não ser suficiente para novas conquistas. É essencial que a resistência seja combinada com a defesa da democracia e do direito de organização, com a apresentação de novas demandas e reivindicações. O fator principal das políticas públicas defendidas e implantadas pelo PT é o protagonismo dos excluídos, e esse poder de iniciativa pode ser potencializado pelo exercício cotidiano da democracia.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Começar de novo

Cortina de fumaça - A discussão sobre o pomar de laranjas do "coiso" se parece com uma imensa enganação, que tem o papel principal de esconder debates muito mais importantes sobre as atitudes do governo federal. Com a preocupação centralizada na apuração de fatos ligados ao lançamento de candidaturas "sem chance", e na eventual punição dos acusados por esse crime, há uma certa liberdade para a efetivação de medidas e providências que visam a supressão de direitos dos trabalhadores e o repasse de riquezas nacionais ao capital privado nacional e internacional.

Punibilidade - A lógica do noticiário insiste na punição individual de acusados e suspeitos, e se distancia do debate sobre o financiamento da política. A discussão sobre o funcionamento das instituições precisa retomar proposições de reforma política, que tenham, como objetivo principal, restabelecer o protagonismo popular e assegurar o aperfeiçoamento da democracia. A punição de eventuais culpados deve ser assegurada, mas sempre será insuficiente para combater a corrupção e o domínio do poder econômico sobre as instituições políticas.

Guerra - A ofensiva contra a Venezuela, comandada pelos Estados Unidos da América do Norte, conta com a colaboração de países como o Brasil, e com a cobertura favorável da mídia tradicional. A intenção é provocar um incidente que justifique uma guerra. A tal "ajuda humanitária" já revelou que tem um lado na disputa política que acontece no país vizinho, e assumiu a defesa de um presidente sem voto, desprezando o presidente eleito da Venezuela. O conteúdo bélico das declarações de integrantes do governo do "coiso" é um indicador perigoso de que podemos estar muito perto de um conflito armado, que vai nos obrigar a reconstruir nossas vidas e nossos sonhos.

Incêndio - O profissional de imprensa vive de contar histórias envolvendo outras pessoas, mas há ocasiões em que episódios tristes invadem nossas vidas. Na semana passada, exatamente no dia 19 de fevereiro, um incêndio destruiu a casa onde eu moro, no bairro do Grajaú. Não houve vítimas. Ninguém se machucou. O desafio, agora, é recomeçar, e eu e a Angela temos certeza de que vamos reconstruir a vida que tínhamos antes da tragédia, e que seremos muito felizes.

Solidariedade - A situação difícil me ajudou a redescobrir a solidariedade das pessoas. Contei (e continuo contando) com a ajuda de inúmeras pessoas, que fazem da solidariedade uma regra de suas vidas, como a Adélia (que me acolheu na casa dela), o Flávio e o Gegê (que viabilizaram os gastos com a burocracia do aluguel de outra moradia), o Eduardo (que esteve junto comigo em várias conversas com a proprietária do imóvel incendiado) e muitas outras pessoas que estão disponíveis para ajudar. O episódio me ensinou que a minha família é bem maior do que o grupo de pessoas que têm o mesmo sangue que eu. Minha família é formada por mulheres e homens que defendem e exercitam a solidariedade.

Decisão - Toda vez que entro na casa incendiada, e olho para a cama do meu quarto, destruída pelo fogo, me lembro de que eu poderia estar ali, se o acidente tivesse ocorrido de madrugada. Eu e a Angela estávamos fora de casa na hora do incêndio, e a Priscila e o Raul, que estavam lá quando aconteceu a tragédia, não sofreram nada. Temos que agradecer a Deus, por ter preservado vidas, e eu, especificamente, devo decidir viver mais e melhor, conviver mais com filhos, filhas e netos; visitar minha mãe, meus irmãos e irmãs com mais regularidade; e estar, sempre que possível, com os companheiros de todas as horas. A melhor forma de obter novas chances de sobrevivência e de saúde é aproveitar a oportunidade que eu acabo de conquistar. 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Laranjas e milícias

Aparências - A primeira exoneração do governo do "coiso" foi anunciada, oficialmente, nesta segunda feira. O episódio deve encher de empáfia aqueles que sempre afirmaram não ter bandido de estimação. O motivo alegado para o desligamento do ministro foi a destinação de dinheiro público para uma candidatura "sem chance", mas a razão verdadeira pode não ser essa. O ministro exonerado ousou mexer num vespeiro, e se meteu a dar palpites em um hospital público controlado pela milícia. Tudo indica que foi essa "intromissão indevida" que provocou sua desgraça. 

Conivência - A maior parte dos grandes veículos de comunicação aceitou, sem questionar, a versão oficial para a exoneração, e reproduziu informações repassadas pela assessoria de imprensa do "coiso". O comportamento midiático reforça a empáfia e a virulência dos simpatizantes do governo, contribuindo para que o tema seja tratado com a maior naturalidade do mundo. Mexer nessa casa de marimbondos pode ser perigoso. Jornalistas não se esquecem de colegas como Tim Lopes, que, investigando o mundo do crime, perderam a vida. Grandes veículos de comunicação, no entanto, são cúmplices do banditismo. A omissão midiática é proposital, e reveladora dessa cumplicidade. 

Golpismo - O episódio é esclarecedor sobre o alcance dos tentáculos do golpismo. Não há qualquer indício de que o ministro defenestrado seja punido judicialmente. Se houver qualquer castigo, ele pode ocorrer numa viagem de avião ou em um acidente qualquer, provocado (ou encomendado) pelos verdadeiros responsáveis pela exoneração. O golpe de 2016, e o governo fascista que veio depois, têm, como única base social organizada, milicias armadas que exercem o poder, que exoneram e nomeiam, e que bancam suas posições com base em ameaças e intimidações.  

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Injustiça, desigualdade e violência

Judiciário - A cassação da liminar que cancelava o aumento da tarifa dos ônibus da cidade de São Paulo é mais uma demonstração de que o judiciário não é neutro. O motivo principal da concessão da liminar foi o descontentamento demonstrado pela população com o reajuste. A razão da revogação da liminar foi o alinhamento do judiciário com os interesses empresariais. A decisão judicial busca atender, também, a lógica do financiamento público da lucratividade particular. O aumento vai direto para as empresas de ônibus. A prefeitura continua repassando generosos subsídios que continuam sustentando um capitalismo sem risco. E quem paga a conta é a população, que continua viajando apertada e em condições precárias e que corre o risco de ver linhas de ônibus serem suprimidas.

Mobilização - A liminar que suspendeu o reajuste não foi uma concessão. Ela só foi editada depois da forte mobilização popular. Foram quatro manifestações públicas contra o aumento. A decisão judicial mais recente buscou atender os interesses dos empresários de ônibus e os da administração, e só aconteceu quando a mobilização se reduziu a pedir que a prefeitura recebesse a notificação e voltasse a praticar a tarifa anterior.

Exceção - O telejornal mais importante da maior emissora de televisão do país teve, neste sábado, mais uma vez, a presença de uma mulher negra na apresentação do noticiário. Antes dela, a jornalista Glória Maria também já havia cumprido o mesmo papel. Faz alguns anos que o mesmo informativo televisivo foi apresentado, também pela primeira vez, por um jornalista negro. É óbvio que as presenças de Maju Coutinho, Glória Maria e de Heraldo Pereira na bancada do JN são vitórias importantes. Mas é evidente que isso é insuficiente. Mulheres e negros representam a maioria do povo brasileiro. É injusto e desigual que continuemos a ser tratados como cerejas de um bolo assado e confeitado com cor branca e masculina.

Violência - O assassinato de um jovem, por um segurança de supermercado, é uma das consequências do discurso de ódio existente em nossa sociedade. As mãos do assassino agiram com o apoio dos que defendem esse tipo de atitude. O "coiso" não é o mandante do crime, mas seus pronunciamentos públicos autorizaram (e incentivaram) a atitude insana do segurança do supermercado.



      

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Luta democrática

Festa - Na celebração do aniversário do PT, tive a oportunidade de rever companheiros e companheiras que, no decorrer dos últimos anos, partilhei momentos inesquecíveis e emocionantes. A constatação (óbvia e quase unânime) é de que chegamos aos 39 anos de vida de nosso partido com inúmeras dúvidas sobre nossas tarefas na atual conjuntura e sobre as responsabilidades que temos com o futuro. As certezas que temos tem a ver com o caminho que percorremos, sempre comprometidos com as causas populares e com os movimentos sociais.

Desafios - O companheiro Durval de Carvalho, atual presidente do Diretório Municipal do PT de Campinas (SP), me ajudou a ver que as dúvidas e incertezas podem ser estímulos à nossa capacidade de elaboração, o que pode resultar em encaminhamentos interessantes para as lutas populares. Penso que herdamos a consciência de luta dos que resistiram ao autoritarismo implantado pelo golpe de 1964. Os filhos e netos da geração atual serão herdeiros do que conseguirmos fazer no enfrentamento do fascismo implantado em nosso país pelo golpe de 2016 e pelo sucesso eleitoral do "coiso". As iniciativas que tomarmos serão admiradas e imitadas. As atitudes dos protagonistas do futuro serão responsáveis por um mundo melhor e mais justo.

Democracia - O enfrentamento contra o autoritarismo implantado pelo golpe de 1964 teve a participação de inúmeros atores políticos e sociais que, no atual momento político, ainda não assumiram o mesmo papel. Uma das explicações para a pouca influência dos defensores da democracia no enfrentamento com o fascismo defendido pelo "coiso" é a inexistência, na conjuntura atual, de figuras públicas como Leonel Brizola, Miguel Arrais, Ulisses Guimarães, Mario Covas ou Franco Montoro que, ainda que nunca tivessem defendido uma sociedade socialista, sempre foram intransigentes defensores da democracia e dos direitos humanos.

Protagonismo - O debate sobre a criminalização da homofobia é um momento importante de reflexão sobre algumas ideias estúpidas do "coiso" e de seus seguidores. A civilização humana evoluiu o suficiente para reconhecer que a identidade biológica (ser homem ou mulher) não tem nada a ver com a orientação sexual dos indivíduos. O estágio atual foi alcançado, especialmente, por causa do poder de iniciativa de mulheres e homens que, mesmo diante de julgamentos preconceituosos, souberem exercer a liberdade de ser e de existir. O fascismo pretende fazer a história andar para trás, e legitimar a violência contra a comunidade LGBT. Criminalizar a homofobia vai cercear a liberdade de expressão de imbecis e preconceituosos, mas, ao mesmo tempo, vai representar a garantia de que os seres humanos que não se incluem na heteronormatividade defendida pelo fascismo tenham direito de viver. 

Fritura - Um dos integrantes do primeiro escalão da presidência da república está sendo fritado (publicamente) pela família do "coiso". Responsável por repassar R$ 400 mil para a campanha de uma candidata que obteve apenas 274 votos, ele havia concordado em assumir a culpa e pedir demissão. O último lance da novela envolveu o próprio presidente, que disse, numa entrevista, que se o ministro estiver envolvido, "o destino não pode ser outro a não ser a volta às suas origens". O ministro mudou de ideia e, agora, diz que não pede pra sair. O esquema é maior do que ele. Está claro que a candidatura "sem chance" foi criada pelo partido do "coiso" para desviar dinheiro público.    

O futebol e a defesa da vida

Espetáculos - Sempre gostei de ir a estádios de futebol. As torcidas sempre me fascinaram. Mais do que as disputas das partidas, as cenas d...