sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Os perigos do senso comum

Na cadeia - A prisão (tardia) de Paulo Maluf tem contribuído para o desenvolvimento de um senso comum desumano e contrário aos avanços da civilização. Há uma espécie de consenso não explícito (com a colaboração do poder judiciário) de que ele deva morrer na cadeia, e que o mesmo destino seja reservado a todos os acusados de corrupção política. Não há espaço para o debate sobre o futuro da contratação de serviços e obras públicas. Desde que o meu cabelo era preto que Maluf deve ser preso. Sua figura pública é indefensável e ele tornou-se sinônimo de roubo, falcatrua e desvio de dinheiro público. Defender sua permanência na cadeia, nas condições atuais, reforça o senso comum da punibilidade individual, isentando a sociedade de produzir critérios tendentes a dificultar a repetição de casos e histórias como a de Maluf.

Vacina - Nem se cogita a possibilidade de que as contratações de obras e serviços públicos sejam feitas por organismos independentes dos governos. O maior atrativo para a ocupação de cargos públicos (eletivos ou de nomeação dos eleitos) continua sendo a possibilidade de contratação de serviços e obras, com a porta aberta para a repetição de casos de corrupção e para a punibilidade individual. Os grandes veículos de comunicação reforçam a tese da punibilidade individual, com destaque para a seletividade antipetista. A disseminação da notícia sobre a prisão de Maluf (um corrupto notável) serve de justificativa para o discurso contra a esquerda e contra a política em geral. 

No hospital - O presidente ilegítimo esteve, recentemente, internado em um hospital paulistano, quando foi submetido a procedimentos médicos que devem prolongar sua sobrevivência física pessoal, com o objetivo de viabilizar a aprovação de medidas supressivas de direitos. Diferentemente de integrantes do governo anterior, o comandante do governo sem voto não foi hostilizado por adversários políticos, uma demonstração de civilidade do PT e da esquerda, mas a sua insistência em promover votações de medidas impopulares no parlamento vai contribuir, certamente, para que ele seja lembrado, no futuro, como  instrumento do golpismo que, mesmo com sérios problemas de saúde, buscou viabilizar medidas supressivas de direitos, favoráveis aos interesses de banqueiros credores da dívida pública e de empresários de vários setores da economia.

Lucratividade - O número de desempregados formais, anunciado nesta semana, é revelador de que a desregulamentação da economia pode gerar uma espécie de contratação informal que escapa, inclusive, da possibilidade de negociação individual entre empresas e trabalhadores. O que pode estar acontecendo é que as contratações estejam acontecendo informalmente, sem qualquer registro na carteira profissional. O que estava previsto, na nova legislação, para ser intermitente, pode estar sendo, simplesmente, informal     

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