Fator Bolsonaro - O modelo da democracia brasileira, mantido, em sua essência, há décadas, privilegia a fulanização do voto e despreza o debate sobre conteúdos programáticos. A proporcionalidade das casas legislativas, por outro lado, assegura a presença de representantes de ideias e projetos que não são reconhecidos pela maioria da sociedade, mas que se manifestam de acordo com os interesses de seus apoiadores políticos e financeiros. As ideias defendidas por Jair Bolsonaro não são majoritárias, mas há uma parcela importante da população que pensa como ele, fazendo com que venha se elegendo, sucessivamente, para o cargo de deputado federal. Numa eleição presidencial, no entanto, ele deve ter dificuldades. Mas é assustador o percentual de pessoas que se dispõe a votar nele e a apoiá-lo em seu objetivo de tornar-se presidente da república. Mesmo que não se eleja, é provável que ele obtenha, no primeiro turno, um resultado próximo de 30%, o que será uma proporção muito elevada. Será a primeira vez que uma candidatura, abertamente, de direita alcançará tal resultado, e o percentual pode levá-lo ao segundo turno, quando o voto é decidido mais pela negação das ideias e propostas do oponente do que pelo conteúdo programático do escolhido. Collor, por exemplo, não foi eleito por causa dos seus projetos, mas, essencialmente, porque ele era o candidato que podia, em 1989, derrotar a candidatura de esquerda encarnada pelo presidente Lula.
Pensamento único - Partidos políticos de esquerda têm sido hostilizados por não apoiarem, já no primeiro turno, a candidatura do presidente Lula. As hostilidades são dirigidas ao PCdoB, que tem Manuela D'Ávila como candidata; e ao PSOL, que acaba de lançar a candidatura de Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Como petista, sou defensor confesso da candidatura do presidente Lula. Continuo firme na luta pelo direito de o presidente Lula concorrer a um novo mandato. Acho um exagero, no entanto, qualificar integrantes do PCdoB e do PSOL como traidores. Considero positivas as outras candidaturas da esquerda brasileira ao Palácio do Planalto, e acho que a soma dos votos desses postulantes com os votos do presidente Lula podem representar um capital eleitoral importante no momento de discutirmos do futuro do Brasil. A diversidade, que sempre esteve presente nas lutas sindicais e populares, se prepara para ingressar no espaço institucional, o que deve dar conteúdo classista à disputa eleitoral, ainda dominada por golpistas e seus apoiadores ou por defensores confessos de ideias conservadoras. A construção da unidade da esquerda deve ser resultante da aproximação dos que pensam diferente mas que, ao mesmo tempo, defendem uma sociedade justa e igualitária.

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