segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Disputa eleitoral e luta de classes

Divergências - Não foram poucas as vezes, dentro do PT, que eu discordei da opinião da direção partidária. Foram raríssimas as ocasiões em que essas divergências foram resolvidas a meu favor. Sempre defendi a diversidade de ideias e a convivência democrática como componentes importantes da estrutura do Partido dos Trabalhadores. Procurei nunca me justificar o fato de compor uma minoria para me omitir das responsabilidades de dirigente. As resoluções do meu partido foram decididas com a minha participação e, se o resultado final não correspondeu às minhas ideias, isto não tem relevância. Ao final dos debates, as deliberações foram defendidas, publicamente, por mim e por inúmeras outras pessoas que, no início das discussões, tinham outras propostas.

Eleições - Uma das discordâncias históricas, no interior do PT, se refere à participação nos processos eleitorais. Alianças pontuais nem sempre foram adotadas por unanimidade e, em várias ocasiões, decisões das instâncias superiores motivaram discussões difíceis e desgastantes. É o que acontece, agora, com o acordo nacional celebrado com o Partido Socialista Brasileiro (PSB) que, se efetivado, vai sacrificar candidatura promissora no estado de Pernambuco. A contestação à decisão acontece, especialmente, porque nossos prováveis aliados nos oferecerão, como contrapartida, apenas a "neutralidade", quando seria razoável esperar que eles se engajassem no apoio mais explícito e entusiasmado ao presidente Lula e ao PT. A única possível vantagem do acordo é o enfraquecimento da candidatura de Ciro Gomes, um adversário eleitoral importante.

Dualidade - O objetivo de nosso partido sempre foi (e continua sendo) o de oportunizar a participação política dos integrantes das classes populares que, antes da fundação do Partido dos Trabalhadores, estavam condenados a serem cabos eleitorais dos candidatos "menos piores" da classe dominante ou apoiadores das poucas candidaturas comprometidas com os interesses populares. Uma novidade importante, da existência do Partido dos Trabalhadores, foi a incorporação de integrantes ativos dos movimentos sociais populares, o que trouxe, para o programa e para o cotidiano do partido, demandas e reivindicações da maioria da população. Foi inevitável, ao mesmo tempo, a adaptação ao calendário eleitoral e ao espaço institucional. A participação de sindicalistas e militantes de movimentos sociais populares contribuiu para a incorporação das demandas populares. A adaptação ao espaço institucional, por outro lado, impôs uma política de alianças que nem sempre coincide com as opiniões e posicionamentos dos defensores dessas reivindicações.

Inevitável - É impossível, no espaço institucional, escapar à celebração de acordos e alianças eleitorais. Não existe como ignorar, por outro lado, as enormes carências da maioria da população brasileira. A participação no espaço institucional não pode impor a imobilidade dos movimentos sociais populares. A mobilização pela libertação do presidente Lula tem, como conteúdo principal, um conjunto de demandas e reivindicações das classes populares. O comprometimento com a candidatura do presidente Lula, assim, significa uma concordância explícita com esse conteúdo. Não há como esperar que nossos aliados tenham o esse nível de compromisso. Continuamos, para todos os efeitos, os maiores responsáveis pela defesa dos direitos dos trabalhadores e do povo. Ao celebrarmos alianças e acordos eleitorais, por isso, devemos reforçar o espaço real da luta de classes. O que é inadmissível é a subordinação dos movimentos sociais populares à lógica de acordos inevitáveis.     

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