sábado, 13 de outubro de 2018

A violência como argumento

Ditadura - No final da ditadura militar, o conservadorismo conseguiu hegemonizar a transição para a democracia, impondo medidas que tornaram a mudança lenta e gradual, além de incompleta. Eu estava entre os que pretendiam a radicalização da democracia, com a implantação imediata de eleições diretas em todos os níveis e, especialmente, com a democratização das relações de trabalho. Os sindicalistas que reforçaram a transição conservadora usaram de violência, acusando os defensores da radicalidade democrática de "inimigos da unidade".

Repressão - Sindicatos de trabalhadores, como o dos metalúrgicos de São Paulo, eram ocupados, desde o golpe de 1964, por interventores de confiança do regime. Era usual a parceria deles com integrantes da polícia política. Muitos companheiros saíram direto das assembleias do sindicato para o DOPS, delatados pelos pelegos. A iminência do fim do autoritarismo levou, para dentro dos sindicatos de trabalhadores, sindicalistas que estavam afastados desse espaço. Alguns deles se tornaram muito próximos dos interventores, e foram aliados importantes da transição conservadora no movimento operário ao executarem ações violentas, em nome da "unidade", que funcionaram como reforço da transição "lenta, gradual e segura".

Unidade - Seria simplificar demais dizer que a violência era praticada, exclusivamente, por profissionais contratados pelos pelegos. É óbvio que esse tipo de violência acontecia, mas operários raivosos também investiam contra os "divisionistas", e esta pode ser uma infeliz coincidência com os defensores do "coiso". Eu e mais um companheiro tivemos que sair pela janela de uma reunião, para escapar de uma dessas agressões. Episódios parecidos aconteceram, na mesma época, sempre descritos como brigas entre "dois lados violentos". Os agressores nem sempre eram capoeiristas contratados pelo pelego. Em muitos casos, eram sindicalistas operários, defensores da "unidade".  

Negligência - Confesso que subestimei o perigo representado pelos apoiadores do "coiso". Inicialmente olhei para eles com certo desprezo. Várias vezes os qualifiquei como loucos e insensatos (o que é verdade), mas ignorei o objetivo principal do comportamento odioso. Agressões e ameaças se tornaram, para eles, meios de conseguir a adesão das pessoas. Demorei a fazer um paralelo com momentos históricos recentes de nosso país, e acabei sendo confrontado por comportamentos que me conduziram a uma paralisia cujo limite, desgraçadamente, é o desabafo, o que dificulta ações afirmativas contra a enxurrada de mentiras e de ações violentas e insanas.

Intimidação - O uso da violência como argumento não é uma novidade. A apologia das guerras e o discurso patriótico são mais fortes do que a defesa da paz. O "coiso" pode parecer uma alternativa como procurou ser a "transição lenta, gradual e segura", mas essa história não vai se repetir. A luta contra o ódio e o fascismo sempre existiu, e vai continuar. Estaremos, sempre, na trincheira da defesa da liberdade e da democracia. O ódio não representa a maioria das pessoas, e a insanidade não combina com os avanços da civilização humana.

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