quinta-feira, 11 de outubro de 2018

O desafio do otimismo

Greves - Nos meus tempos de sindicalista metalúrgico eu ouvi, algumas vezes, palavras de inimigos das greves, que diziam que nós éramos os maiores culpados pelo desemprego. As palavras de desaprovação me ajudaram a enxergar que, bem ao contrário do que diziam os antigrevistas de então, foram as paralisações que asseguraram, ao longo do tempo, que houvessem mais e melhores empregos, e que as greves sempre foram, no decorrer da história, instrumentos de defesa do valor da força de trabalho, única mercadoria que o trabalhador possui.

Política - De início, confesso que não me entusiasmei com o PT. Só formalizei minha filiação partidária quando percebi que a luta sindical conquistava aumentos de salários e melhorias nas condições de trabalho mas tinha poucos meios para manter esses avanços. A transformação de conquistas pontuais e localizadas em políticas públicas generalizadas dependia de decisões dos poderes públicos e, para que isto acontecesse, era necessário que tivéssemos presença nas casas parlamentares e nos governos.

Ditadura - O restabelecimento da democracia possibilitou o retorno de exilados, e propiciou que companheiros e companheiras que viviam na clandestinidade passassem a ter uma vida normal (ou quase isso). Durante o período autoritário foram muitos os que enfrentaram a tortura e o exílio. Lembranças de interrogatórios terríveis afetam, psicologicamente, muitos dos que enfrentaram a ditadura. Há famílias que nunca conseguiram encontrar os corpos de mortos pelo regime.

Violência - Os valores da época da ditadura estão ressurgindo, com novos porta-vozes, e buscando a legitimidade das urnas. Não conseguimos promover julgamentos dos criminosos que estiveram a serviço do regime e, especialmente por isso, muitos deles são desconhecidos da maioria da população. Os grandes veículos de comunicação tratam os atuais porta-vozes do autoritarismo com normalidade, A atitude midiática não é somente injusta, é também falsa e de má-fé. Ao afirmar que há uma polarização da campanha eleitoral, a mídia tradicional reforça uma mentira de que há violentos dos dois lados, e ignora totalmente o discurso de ódio do "coiso".

Muro - Dois partidos políticos, conhecidos nacionalmente, acabam de decidir pela neutralidade no segundo turno da eleição presidencial. O PSDB e o DEM acabam revelando o perfil autoritário de seus integrantes e dirigentes. O muro da indecisão já foi ocupado, algumas vezes, pelos tucanos, mas a neutralidade, neste momento, é um reforço ao candidato que sente saudades da ditadura e que enaltece a biografia de torturadores. No caso do DEM, projetado nos porões da ditadura, o apoio ao "coiso" não seria espantoso ou surpreendente. Mas eles preferiram acompanhar os tucanos em cima do muro, como uma forma "não explícita" de apoiar o autoritarismo.

Constrangimento - O companheiro Cido Faria, com quem convivi nos tempos da militância sindical, escreveu um texto preciso, onde se refere a relações pessoais e familiares com apoiadores do "coiso". Ele afirma que se sente constrangido em "receber um 'amigo' ou 'parente' sabendo que essa pessoa apoia alguém que promete me tratar a bala". Ele fala também que está "muito velho para enfrentar um pau de arara ou choques nos genitais". Li o texto com apreensão, e confesso que sinto o mesmo constrangimento. A impressão que eu tenho é que as pessoas que apoiam o "coiso" não têm noção alguma das consequências trágicas de uma eventual vitória eleitoral do fascista. Desgraçadamente, no entanto, pode não ser somente falta de noção das consequências da eleição. Tenho medo que parte das pessoas, inclusive nossos "amigos" e "parentes", não se importem com o que vá acontecer. Meu maior medo é que eles sejam os executores de nossas sentenças de morte, e que se orgulhem disso, dizendo "um comunista a menos". Tomara que eu esteja enganado.

Otimismo - Acredito em um futuro melhor e mais justo para todos os seres humanos. Acho que vamos vencer a batalha de 28 de outubro e, com isso, creio que a democracia e o bom senso vão prevalecer. Estou preocupado que não conseguiremos realizar mudanças necessárias urgentes, e que, mais adiante, teremos novos desafios a enfrentar, mas acredito que seguiremos lutando para mudar o mundo e para mudar o mundo mudado. 

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