terça-feira, 21 de agosto de 2018

Seletividade, palavras e manchetes

Parcialidade - A seletividade antipetista da mídia tradicional é conhecida. Os ataques ao PT se tornaram rotina, e é por causa disso que há uma espécie de senso comum contra a política. O noticiário genérico sobre corrupção é sempre encerrado com informações negativas sobre alguma figura pública do PT. Ainda que as notícias sejam antigas ou repetidas, isso contribui para crescimento do senso comum de "a corrupção foi inventada pelo PT".

Seletividade -  Nesta semana, no entanto, esse comportamento antipetista se superou. Depoimento do presidenciável tucano à Lava Jato nem chegou a ser noticiado. Informação positiva sobre o PT, (a decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU assegurando o direito do presidente Lula ser candidato) ocupou exatos 15 segundos no Jornal Nacional. O mesmo telejornal usou mais de um minuto para dar voz a quem se contrapõe à liminar da ONU.

Gramática - Há expressões, palavras e modos de escrever que induzem o leitor a um entendimento (ou desentendimento) sobre determinado assunto. Quem escreve, por conta própria ou a mando de alguém, busca usar artifícios que ajudam no convencimento de quem lê. Uma expressão muito utilizada na mídia tradicional se refere a quem já ocupou cargo público, e o designa como "ex" alguma coisa, com o objetivo de colocar a pessoa em um lugar distante (no passado), para negar (subliminarmente) a possibilidade de seu retorno.

Passado - Os grandes veículos de comunicação se especializaram em se referir ao presidente Lula como "ex-presidente". A influência da expressão é tão grande que, muitas vezes, nos vemos repetindo isso, quando escrevemos ou quando falamos. O uso generalizado da expressão é responsável, também, pelo surgimento, com relativo sucesso, de figuras públicas que são apresentadas, na mídia tradicional, como novidades. A obsessão em superar o passado, para a mídia tradicional, se resume em qualificar o PT como principal representante de um pretérito "indesejável".

Amostra - Nos últimos dias, assistimos uma demonstração clara de como induzir a opinião pública a um entendimento de interesse das elites. Os grandes veículos de comunicação, quando se referiram à decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU a favor do direito do presidente Lula participar da eleição de 2018, dedicaram pouco espaço para a divulgação da decisão do organismo internacional, e veicularam opiniões de figuras públicas que se contrapõem à liminar.

Maneiras - A seletividade antipetista da mídia tradicional, no entanto, não se limita ao de tempo no noticiário da televisão ou ao espaço em jornais, revistas e sites. O modo de veiculação das notícias sempre tem a intenção de disseminar o entendimento da classe dominante e do golpismo e, no caso da decisão da ONU isso aconteceu de várias maneiras.

Teimosia - Houve uma insistência em eliminar o caráter imperativo da liminar que, embora não tenha tido origem em nenhum tribunal, é uma decisão que deve, obrigatoriamente, ser cumprida, uma vez que o Brasil é signatário de tratados internacionais que impõem a adoção de todas as medidas constantes da decisão. O comportamento midiático se assemelha a legitimar ações de países e organizações beligerantes. Os grandes veículos de comunicação limitam as consequências de uma provável desobediência ao previsível "vexame internacional", como se isso fosse pouco ou nada importante.

Manchetes - Outro aspecto do comportamento midiático que merece ser destacado se refere às manchetes sobre o episódio. Em todos os casos, a decisão foi apresentada, pela mídia tradicional, com o adendo de uma opinião contrária. Houveram situações em que os discordantes ocuparam lugar de destaque na chamada da reportagem, como se posicionamentos de ministros do governo sem voto ou de integrantes do Ministério Público Federal fossem mais importantes do que o conteúdo da liminar.          

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